Banqueiro de investimento
- victornunes88
- 22 de ago.
- 8 min de leitura
Gosta de finanças, curte negociar, tem facilidade com números e com gente, e se imagina ajudando empresas a dar passos grandes — como comprar outra companhia, abrir capital na bolsa ou captar bilhões para investir? Então a carreira de banqueiro de investimento (investment banker) pode ser para você. Esse profissional trabalha em bancos de investimento e boutiques financeiras conectando empresas e investidores.
Na prática, ele organiza e coordena operações importantes para o crescimento dos negócios: fusões e aquisições (M&A), captações de dívida (debêntures e afins), ofertas de ações (IPO/follow-on), reestruturações e avaliações de empresas. É um trabalho intenso e colaborativo, com responsabilidade grande — e impacto direto na economia.
No Brasil, o mercado de capitais vive ciclos: há anos com muitas ofertas e anos mais lentos (principalmente de IPOs), mas as captações totais via mercado seguem relevantes. Em 2025, por exemplo, as emissões de mercado de capitais somavam centenas de bilhões de reais até julho (com grande peso das debêntures), mostrando como as empresas continuam recorrendo a bancos para financiar projetos e organização financeira.

O que é um banqueiro de investimento
O banqueiro de investimento é um assessor financeiro de empresas, governos e investidores institucionais. Ele estrutura operações grandes e complexas — mas sem jargão: pense nele como alguém que ajuda a empresa a levantar dinheiro (vendendo ações ou emitindo títulos de dívida), acompanha uma compra/venda de negócios (M&A) e aconselha em decisões estratégicas (qual é o melhor momento, o preço justo, os riscos).
Esse trabalho exige combinar:
Visão de negócio (entender o setor do cliente e seus planos).
Organização (cronogramas, documentos, prazos).
Comunicação e negociação (alinhando interesses de muitos lados).
Raciocínio numérico (para analisar resultados e cenários sem se perder no tecnicismo).
Há equipes especializadas (por exemplo, M&A, ECM – equity capital markets, DCM – debt capital markets) e também coverage setorial (times que cuidam de clientes de um setor, como energia, varejo, saúde). O trabalho segue regras da CVM e da autorregulação da ANBIMA, que dão o “manual” das ofertas públicas no país. Hoje, a Resolução CVM 160organiza as regras das ofertas, substituindo normas antigas como as Instruções 400 e 476.
O que faz
Conversa com a empresa-cliente para entender objetivos (crescer? reduzir dívida? comprar concorrente?).
Ajuda a planejar a operação (tipo de oferta, prazos, papéis necessários, quem precisa aprovar).
Coordena documentos e apresentações para investidores e conselhos de administração.
Prepara materiais de venda do projeto (o “pitch” da oportunidade) e responde dúvidas.
Organiza processos de M&A (lista de interessados, datas, dados da empresa, regras).
Apoia due diligence (a checagem de informações), conectando especialistas.
Faz análises comparativas e cenários financeiros para embasar discussões de preço — sem tecnicismo excessivo para quem está começando.
Ajuda a planejar encontros com investidores (“roadshow”) e a comunicação ao mercado.
Interage com advogados, auditores, CVM, B3 e ANBIMA para cumprir regras.
Acompanha assinaturas, liquidação e pós-operacional da transação.
Mantém relacionamento de longo prazo com clientes e potenciais clientes.
Registra lições aprendidas e atualiza a equipe sobre o setor.
No conjunto, o banqueiro de investimento atua como um “gerente de projetos financeiros”: junta gente, informação e prazos para tirar a operação do papel. Em momentos de mercado “quente”, as equipes aceleram ofertas; quando o mercado esfria (como nos anos de seca de IPOs), o foco pode migrar para M&A, dívida e reestruturações.
Responsabilidades
Entender a estratégia do cliente e traduzir em soluções de mercado.
Respeitar regras da CVM/ANBIMA e prazos de cada etapa.
Organizar informações sensíveis com sigilo e segurança.
Alinhar expectativas entre empresa, investidores e demais assessores.
Apresentar propostas claras de captação/estruturação.
Negociar termos (preço, garantias, prazos, condições).
Trabalhar sob pressão e com múltiplos projetos ao mesmo tempo.
Comunicar atualizações de forma objetiva e frequente.
Documentar decisões e aprovações com rastreabilidade.
Zelar pela reputação do banco e do cliente (ética em primeiro lugar).
Acompanhar mercado (taxas, notícias setoriais) para orientar timing.
Medir resultados e impacto para o cliente após a operação.
Essas responsabilidades mostram que o papel vai além dos números: é coordenação, confiança e disciplina. Bons banqueiros de investimento ouvem, explicam e entregam com qualidade e velocidade.
Áreas de atuação
M&A (Fusões e Aquisições): compra/venda de empresas ou participações.
ECM (Ações): IPOs, follow-ons, blocos e programas de ações.
DCM (Dívida): emissões de debêntures, notas, CRA/CRI e outras dívidas.
Reestruturações: ajustes de capital e dívidas de empresas em fase de reorganização.
Coverage setorial: atendimento a carteiras de clientes por setor (saúde, energia, varejo, tech, agro).
Soluções de financiamento estruturado: combinações de garantias e prazos para projetos.
Cada frente tem sua dinâmica. Em M&A, o foco é valor e negociação. Em ECM/DCM, o foco é janela de mercado e investidor. Em reestruturação, o desafio é equilíbrio entre credores e empresa.
Como se tornar um
Dá para começar no ensino médio se envolvendo com projetos que desenvolvem organização, comunicação e raciocínio lógico: feira de ciências, clube de finanças/empreendedorismo, simulações de negócios, organização de eventos.
Na faculdade, os cursos mais comuns são Administração, Economia, Engenharia, Contabilidade e áreas afins. O caminho costuma passar por:
Estágio em banco de investimento, boutique de M&A, private equity/venture capital, consultoria estratégicaou áreas corporativas (FP&A, relações com investidores).
Projetos práticos: ligas de mercado financeiro, estudos de caso, monitorias.
Portfólio simples: anote projeto → seu papel → resultado (ajudou a montar um plano de investimento? organizou um processo seletivo de potenciais compradores?).
Certificações podem ajudar indiretamente (mostram disciplina), como ANBIMA para o mercado (CEA, CGA — embora sejam mais ligadas a investimentos/asset), e trilhas educacionais da B3/CVM para entender o mercado. Não são obrigatórias para IB, mas somam.
Networking e bom currículo contam: atividades extracurriculares, inglês, participação em ligas de finanças, estágio de férias (“summer”) e mentorias. O crescimento típico é: Analyst → Associate → Vice President → Director/Managing Director.
Habilidades necessárias para a profissão
Antes do “financeês”, vem gente + processo. Você vai precisar de:
Comunicação clara (oral e escrita).
Organização (prazos, arquivos, versões, atas).
Raciocínio numérico e pensamento crítico.
Negociação e empatia (entender interesses de cada parte).
Resiliência e gestão do tempo (picos de trabalho acontecem).
Ética e sigilo (informações sensíveis).
Curiosidade por negócios e setores.
Trabalho em equipe com advogados, auditores, investidores e o time do cliente.
Dá para treinar isso em projetos da escola, apresentações e trabalhos em grupo. O diferencial está em explicar ideias complexas de forma simples.
Salário médio
A remuneração em investment banking varia muito por cargo, banco, bônus e cidade. Como referência de mercado reportada por profissionais, o Glassdoor indica que um Analista de Investment Banking no Brasil tem pagamento total médio em torno de R$ 412 mil/ano (soma de base + variável), com amostra pequena e grande faixa de valores; já Associates aparecem com mediana acima de R$ 1 milhão/ano, também com variação ampla — números que refletem bônus mais altos em bancos de investimento. Atenção: amostras podem ser reduzidas e oscilar.
Para um contraponto oficial CLT (sem bônus), cargos mais amplos em instituições financeiras, como Analista Financeiro (Instituições Financeiras – CBO 2525-45), registram média de R$ 4,64 mil/mês no Brasil (atualizado em 6 de agosto de 2025, base CAGED). Esse dado não representa investment banking, mas serve de piso de comparação no mundo financeiro formal.
Em resumo: IB tende a pagar acima da média, especialmente em bancos grandes e boutiques com alta atividade, principalmente via bônus atrelados a resultados.
Local e ambiente de trabalho
A rotina combina escritório (ou home office) com reuniões externas. Espera-se ritmo acelerado, prazos curtos e muita coordenação com várias equipes (cliente, jurídico, auditoria, mercado). Em picos de operação, as horas podem esticar; por isso, organização, priorização e cuidado pessoal são essenciais. O ambiente favorece quem comunica bem, respeita prazos e sabe pedir ajuda quando necessário.
Você vai lidar com documentos confidenciais, planilhas e apresentações, calls de alinhamento e encontros com investidores. Também vai acompanhar janelas de mercado (momentos melhores para ofertar) e notícias do setor do cliente — porque timing e contexto importam muito.
Mercado de trabalho
O Brasil alterna fases mais fortes e mais fracas para ofertas de ações. Depois do boom de 2020–2021, as estreias (IPOs)praticamente pararam na B3 e, segundo a ANBIMA, a “seca” ainda seguia no radar de 2025. Em contrapartida, o mercado de capitais como um todo (especialmente dívida corporativa) continuou movimentando grandes volumes. No primeiro semestre de 2025, as captações somaram R$ 328,4 bilhões, o 2º maior volume da série, com destaque para debêntures; em julho, houve recorde mensal do ano nas emissões desse tipo de título. Para bancos de investimento, isso significa muito trabalho em DCM e reaberturas pontuais em ações quando o cenário permite.
Enquanto ECM (ações) sofre com juro alto e incerteza, M&A (fusões e aquisições) resiste e, em alguns momentos, acelera. O Brasil registrou 1.582 operações de M&A em 2024 (alta de 5% vs. 2023), segundo a KPMG; já em 2025, relatórios de PwC e TTR Data apontaram crescimento no início do ano, com centenas de transações em apenas um trimestre e ranking de assessores bastante disputado. Para o jovem que mira IB, isso indica que dealflow continua aquecido em M&A, abrindo portas em bancos e boutiques.
Tendências práticas para os próximos anos:
DCM forte (debêntures, CRA/CRI) como alternativa ao crédito bancário, enquanto juros não caem de forma consistente.
M&A seletivo com foco em qualidade de ativos, consolidação setorial e oportunidades cross-border.
Volta gradual do ECM quando as janelas abrirem (queda de juros, confiança e agenda regulatória clara).
Mais governança e transparência nas ofertas, seguindo Resolução CVM 160 e autorregulação da ANBIMA.
Como aproveitar:
Construa base ampla (negócios + finanças + comunicação).
Treine storytelling de projetos (por que essa operação faz sentido?).
Acompanhe relatórios de M&A e mercado (KPMG, PwC, TTR, ANBIMA).
Busque estágio em áreas adjacentes (RI, FP&A, consultoria) se IB direto estiver concorrido — a porta lateral funciona.
Mesmo com ciclos, IB permanece relevante: empresas sempre vão precisar decidir como financiar crescimento, como se reorganizar e quando comprar/vender ativos. Em cada cenário, o banqueiro de investimento é o condutor que transforma estratégia em plano executável e operação concluída.
Perguntas frequentes sobre a profissão
1) Preciso ser um “gênio da matemática” para trabalhar em IB? Não. Ajuda gostar de números e ter disciplina, mas o diferencial é organização, comunicação e raciocínio para explicar soluções de forma clara.
2) Tem que fazer Economia? Não necessariamente. Administração, Engenharia, Contábeis e afins funcionam bem. O importante é estágio bom, inglês, projetos práticos e competências comportamentais.
3) As horas são mesmo longas? Em picos de operação, sim. Por isso, rotina, saúde e priorização importam. Times enxutos valorizam quem organiza e entrega.
4) IB é só “Bolsa de Valores”? Não. Há dívida (DCM), M&A, reestruturações e outras frentes. Em ciclos de IPO fraco, dívida e M&A ganham mais espaço.
5) Certificações são obrigatórias? Para IB não costuma haver uma certificação obrigatória específica, mas trilhas ANBIMA/B3/CVM ajudam a entender o mercado e contam pontos no currículo.
Links e vídeos úteis
ANBIMA – Mercado de Capitais (dados e notícias)
https://www.anbima.com.br/pt_br/informar/mercados-de-capitais.htm (ANBIMA)
ANBIMA – Captações 2025 (release mais recente)
https://www.anbima.com.br/pt_br/imprensa/ofertas-no-mercado-de-capitais-atingem-r-394-9-bilhoes-no-ano.htm (ANBIMA)
InfoMoney – “Seca de IPOs vai continuar em 2025”, projeta ANBIMA
https://www.infomoney.com.br/onde-investir/seca-de-ipos-vai-continuar-em-2025-projeta-anbima/(InfoMoney)
CVM – Resolução 160 (regras de ofertas públicas)
https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/resolucoes/resol160.html (CVM)
KPMG – Pesquisa de Fusões e Aquisições (Brasil)
https://kpmg.com/br/pt/home/insights/2025/02/pesquisa-fusoes-aquisicoes-2024-4-trimestre.html(KPMG)
TTR Data – Relatórios de M&A no Brasil (2025)
https://www.ttrdata.com/pt/publicacoes/relatorio-por-mercado/relatorio-mensal-brasil/Brasil-1T-2025/2291/ (ttrdata.com)
Glassdoor – salários em Investment Banking (Analyst / Associate)
https://www.glassdoor.com.br/Salários/analista-investment-banking-salário-SRCH_KO0,27.htm(Glassdoor Brasil)
https://www.glassdoor.com.br/Salários/investment-banking-associate-salário-SRCH_KO0,28.htm(Glassdoor Brasil)
B3 Educação – trilhas para iniciantes
https://edu.b3.com.br/w/trilha-comecando-a-investir-do-zero (B3 Educação)
CVM – Cadernos e Guias do Investidor (gratuitos)
https://conteudo.cvm.gov.br/menu/investidor/publicacoes/cadernos_guias.html (CVM)
